UNIVERSIDADE
FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO
DE FÍSICA
MESTRADO
EM ENSINO, FILOSOFIA E HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS
DISCIPLINA:
FIS732 - ENSINO DE CIÊNCIAS E GÊNERO
Profa
Dra: Angela Maria Freire de Lima e Souza
Estudante:
Maria das Graças Pereira Nunes(Aluna categoria Especial do Programa de
Pós-Graduação em História das Ciências)
Resenha
05
Base:
Passos, Elizete Silva. Educação das Virgens: um estudo do cotidiano do
Colégio Nossa Senhora das Mercês. Rio de Janeiro, 1ª ed. Editora Universitária
Santa Úrsula. 1995.
EDUCAÇÃO DAS VIRGENS: Educação Hibrida
Educação
das Virgens na análise do cotidiano do Colégio Nossa Senhora das Mercês
apresenta como as educadoras ursulinas tinham uma prática educativa que, de
forma inconsciente, para as educadoras religiosas, era reprodutora de uma sociedade
governada pelos homens. As irmãs não sabiam o que estavam fazendo e seu
trabalho não foi de todo ruim.
Naquela
época o que poderia ter sido feito de diferente? Que outra prática educativa
poderia ter substituído esta? Alguém poderá responder? Não seria justo criticar
de forma negativa, pessoas que tinham bom coração, mulheres que também eram
vítimas do sistema.
Eram
religiosas católicas cuja prática estava distanciada do verdadeiro cristianismo
que ensina a dividir o pão, a cuidar dos pobres, dos órfãos e das viúvas. É
importante pensar qual a validade social de um trabalho que reprimia meninas
abastadas, tirava-lhes o direito às suas coisas e de seus gostos, não para que
aprendessem a dividir com as meninas pobres da escola Santa Ângela, que não
comiam com elas, não estudavam com elas, ficavam lá fora, separadas, perigosas,
porque eram meninas que não iriam casar com industriários, nem com filhos dos
coronéis da cana ou do gado, do cacau ou alguém doutor, ou magistrado rico
retornado da Europa. Como aquelas que acordavam e viviam na instituição.
A
educação de sentar a mesa, andar, vestir etc, só serviria para as meninas, que
estavam sendo adestradas, para serem apresentadas a uma sociedade que as queria
ver assim. Agradariam a seus pais e maridos. Nunca a si mesmas. Um dia olhariam
para trás e diriam: o que houve comigo? Serviria para destacá-las na sociedade,
mesmo que vestidas com modéstia. Seriam moças de fino trato; atrairiam bons
dotes e pretendentes de primeira linha que as tornariam mais ricas, por certo.
Uma
instituição religiosa que educava não para atuarem diretamente com os pobres
mas na corte, na alta sociedade, na indústria do futuro esposo, na fazenda do
pai, como senhoras de fino trato, as aiás. Aprender a amor de Deus poderia não
surtir efeito porque sentiam-se espoliadas e limitadas. A Bíblia diz que onde
há amor, há liberdade, alegria. Embora as irmãs se esforçassem a tornar as
coisas mais fáceis para as meninas, não se percebe entre as entrevistadas
nenhuma fala de que a educação recebida tivesse à ajudado na operação de
mudanças sociais ou de outrém, no desenvolvimento de alguma obra de caridade ou
qualquer outra ação pertinente com o bem estar do próximo a diminuição da
pobreza de forma eficaz, embora não definitiva.
Viviam
em uma instituição total, vigiadas, caso não atendessem as prerrogativas da
linha de conduta estabelecida para a
posição social que ocupavam, eram punidas a depender da gravidade, até
as últimas conseqüências, com o dito amor é claro, mas, a finalidade daquela educação de acordo com as
informações da professora Elizete Passos não era mais nem menos que produzir
mulheres que continuassem mantendo a sociedade como era, fortalecendo o poder
vigente com submissão, humildade “temor de Deus”. Mulheres passivas que não se
atrevessem, que só fossem onde pudessem ir, ou onde fosse permitido ir que se
afastassem do perigo, que não ousassem.
Se
a educação religiosa praticada no Convento de Nossa Senhora das Mercês pelas
ursulinas fosse de incremento a audácia, a modificação das coisas para melhor;
não seria uma educação religiosa na época em que acontecia. E a igreja jamais
foi oposta a situação do poder vigente, masculino, a não ser quando não lhe era
favorável, o que raramente acontecia.
Percebe-se
que até mesmo no Currículo, o que era estudado, servia para a vida doméstica
das futuras esposas. As moças educadas no Convento das Mercês em regime de
internato, de acordo com a época, só tinham dois caminhos: depender da riqueza
do marido que não era coisa má, era algo esperado para aquelas moças, casarem-se com homens de
seu nível social, terem filhos cuidarem da casa, dos bordados, ter boas
conversas com seu marido, serem consoladoras, afáveis e boas com eles, ensinariam
na fazenda se quisessem ensinar religião para seus filhos e de colonos, se o
tempo de dedicação doméstica permitisse ou então, ficarem no convento,
tornaram-se religiosas e educadoras e repetirem o processo com outras meninas.
Essa
educação perpetuava a relação errônea entre os sexos e tolhia as mulheres de
serem. A superficialidade dos assuntos principalmente em relação aos assuntos da
sexualidade, depois para a realidade lá fora, esta educação, ao contrário do
que se pensava, não lhes dava nenhum preparo para vida. Mas, dependendo da
individualidade delas, esta educação as tornava mais vulneráveis.
Como
tomar decisões e ser forte se a educação a alheava? Até suas leituras eram
controladas não podiam falar ao telefone.
Muito
mais pode ser analisado de controversial à liberdade, nessa prática educativa
mesmo para aquela época.
Conclusão
Embora
a educação feminina do Colégio Nossa Senhora das Mercês, Salvador,Bahia tenha
sofrido transformações já no mesmo período da pesquisa para escreita da tese da
autora, ela pode ser caracterizada como uma educação limitadora. Mesmo
afirmasse ter a finalidade de dar
liberdade.
No
colégio das ursulinas as meninas e moças que moravam lá, as que viviam em
regime de internato tinham suas vidas hipercontroladas, sua individualidade era
completamente reprimida para imposição de uma nova forma de ser que se
conformava ao poder vigente, aos ditames do que a sociedade queria para as
moças de família, particularmente das famílias finas. As irmãs não se davam
conta do que faziam. Educavam mulheres para os homens. Tornando-se uma educação
híbrida do ponto de vista da construção de um ser transformador. Olhando com o
olhar do final do século XX e, atualmente, século XXI.
Uma
educação cristã que valesse a pena, naquela época era quase que impossível. O
conhecimento religioso estava com a igreja Católica. Mas, poucos católicos
conheciam a Bíblia. Muitas práticas religiosas, inclusive a educação eram
distanciadas de ensinos cristãos, pela ignorância da igreja. A partir das
dissidências é que se procura buscar o conteúdo cristão? Podemos observar que
temos poucos exemplos religiosos de oposição ao poder vigente.
A
educação das virgens, serve para informar, aos estudiosos como eram as relações de gênero dentro da igreja e como
ocorria a educação religiosas das moças no final do século XIX aos meados do
século XX. Não podemos esquecer, contudo, que muitas mulheres foram vítimas
dessa educação híbrida e temos que admitir, que não havia outra forma de educar
moças para a sociedade, o contexto não permitia. Mas, será mesmo que não havia
outro modelo?
Referências
Bibliográficas
ALGRANT,
Leila Mezan. Escravidão no Cotidiano das Instituições de Reclusão Feminina no
Sudeste do Brasil Colonial em Brasil
Colonização e Escravidão. Maria Beatriz Nizza da Silva (org). Nova Fronteira. Rio de Janeiro, 2000.
MACEDO,
José Rivair. A Mulher na Idade Média (Coleção Repensando a História Geral). São
Paulo Contexto. 1990.
PASSOS,
Elizete Silva. A Educação das Virgens. Um estudo do cotidiano do Colégio Nossa
Senhora das Mercês. Rio de Janeiro, 1ª
ed. Editora Universitária Santa Úrsula. 1995.
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