terça-feira, 10 de setembro de 2013

Resenha 5



UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE FÍSICA
MESTRADO EM ENSINO, FILOSOFIA E HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS
DISCIPLINA: FIS732 - ENSINO DE CIÊNCIAS E GÊNERO
Profa Dra: Angela Maria Freire de Lima e Souza
Estudante: Maria das Graças Pereira Nunes(Aluna categoria Especial do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências)



Resenha 05                          

Base: Passos, Elizete Silva. Educação das Virgens: um estudo do cotidiano do Colégio Nossa Senhora das Mercês. Rio de Janeiro, 1ª ed. Editora Universitária Santa Úrsula. 1995.


EDUCAÇÃO  DAS VIRGENS: Educação  Hibrida


Educação das Virgens na análise do cotidiano do Colégio Nossa Senhora das Mercês apresenta como as educadoras ursulinas tinham uma prática educativa que, de forma inconsciente, para as educadoras religiosas, era reprodutora de uma sociedade governada pelos homens. As irmãs não sabiam o que estavam fazendo e seu trabalho não foi de todo ruim.

Naquela época o que poderia ter sido feito de diferente? Que outra prática educativa poderia ter substituído esta? Alguém poderá responder? Não seria justo criticar de forma negativa, pessoas que tinham bom coração, mulheres que também eram vítimas do sistema.

Eram religiosas católicas cuja prática estava distanciada do verdadeiro cristianismo que ensina a dividir o pão, a cuidar dos pobres, dos órfãos e das viúvas. É importante pensar qual a validade social de um trabalho que reprimia meninas abastadas, tirava-lhes o direito às suas coisas e de seus gostos, não para que aprendessem a dividir com as meninas pobres da escola Santa Ângela, que não comiam com elas, não estudavam com elas, ficavam lá fora, separadas, perigosas, porque eram meninas que não iriam casar com industriários, nem com filhos dos coronéis da cana ou do gado, do cacau ou alguém doutor, ou magistrado rico retornado da Europa. Como aquelas que acordavam e viviam na instituição.

A educação de sentar a mesa, andar, vestir etc, só serviria para as meninas, que estavam sendo adestradas, para serem apresentadas a uma sociedade que as queria ver assim. Agradariam a seus pais e maridos. Nunca a si mesmas. Um dia olhariam para trás e diriam: o que houve comigo? Serviria para destacá-las na sociedade, mesmo que vestidas com modéstia. Seriam moças de fino trato; atrairiam bons dotes e pretendentes de primeira linha que as tornariam mais ricas, por certo.

Uma instituição religiosa que educava não para atuarem diretamente com os pobres mas na corte, na alta sociedade, na indústria do futuro esposo, na fazenda do pai, como senhoras de fino trato, as aiás. Aprender a amor de Deus poderia não surtir efeito porque sentiam-se espoliadas e limitadas. A Bíblia diz que onde há amor, há liberdade, alegria. Embora as irmãs se esforçassem a tornar as coisas mais fáceis para as meninas, não se percebe entre as entrevistadas nenhuma fala de que a educação recebida tivesse à ajudado na operação de mudanças sociais ou de outrém, no desenvolvimento de alguma obra de caridade ou qualquer outra ação pertinente com o bem estar do próximo a diminuição da pobreza de forma eficaz, embora não definitiva.

Viviam em uma instituição total, vigiadas, caso não atendessem as prerrogativas da linha de conduta estabelecida para a  posição social que ocupavam, eram punidas a depender da gravidade, até as últimas conseqüências, com o dito amor é claro, mas, a  finalidade daquela educação de acordo com as informações da professora Elizete Passos não era mais nem menos que produzir mulheres que continuassem mantendo a sociedade como era, fortalecendo o poder vigente com submissão, humildade “temor de Deus”. Mulheres passivas que não se atrevessem, que só fossem onde pudessem ir, ou onde fosse permitido ir que se afastassem do perigo, que não ousassem.

Se a educação religiosa praticada no Convento de Nossa Senhora das Mercês pelas ursulinas fosse de incremento a audácia, a modificação das coisas para melhor; não seria uma educação religiosa na época em que acontecia. E a igreja jamais foi oposta a situação do poder vigente, masculino, a não ser quando não lhe era favorável, o que raramente acontecia.

Percebe-se que até mesmo no Currículo, o que era estudado, servia para a vida doméstica das futuras esposas. As moças educadas no Convento das Mercês em regime de internato, de acordo com a época, só tinham dois caminhos: depender da riqueza do marido que não era coisa má, era algo esperado  para aquelas moças, casarem-se com homens de seu nível social, terem filhos cuidarem da casa, dos bordados, ter boas conversas com seu marido, serem consoladoras, afáveis e boas com eles, ensinariam na fazenda se quisessem ensinar religião para seus filhos e de colonos, se o tempo de dedicação doméstica permitisse ou então, ficarem no convento, tornaram-se religiosas e educadoras e repetirem o processo com outras meninas.

Essa educação perpetuava a relação errônea entre os sexos e tolhia as mulheres de serem. A superficialidade dos assuntos principalmente em relação aos assuntos da sexualidade, depois para a realidade lá fora, esta educação, ao contrário do que se pensava, não lhes dava nenhum preparo para vida. Mas, dependendo da individualidade delas, esta educação as tornava mais  vulneráveis.

Como tomar decisões e ser forte se a educação a alheava? Até suas leituras eram controladas não podiam falar ao telefone.

Muito mais pode ser analisado de controversial à liberdade, nessa prática educativa mesmo para aquela época.

Conclusão
Embora a educação feminina do Colégio Nossa Senhora das Mercês, Salvador,Bahia tenha sofrido transformações já no mesmo período da pesquisa para escreita da tese da autora, ela pode ser caracterizada como uma educação limitadora. Mesmo afirmasse ter  a finalidade de dar liberdade.

No colégio das ursulinas as meninas e moças que moravam lá, as que viviam em regime de internato tinham suas vidas hipercontroladas, sua individualidade era completamente reprimida para imposição de uma nova forma de ser que se conformava ao poder vigente, aos ditames do que a sociedade queria para as moças de família, particularmente das famílias finas. As irmãs não se davam conta do que faziam. Educavam mulheres para os homens. Tornando-se uma educação híbrida do ponto de vista da construção de um ser transformador. Olhando com o olhar do final do século XX e, atualmente, século XXI.

Uma educação cristã que valesse a pena, naquela época era quase que impossível. O conhecimento religioso estava com a igreja Católica. Mas, poucos católicos conheciam a Bíblia. Muitas práticas religiosas, inclusive a educação eram distanciadas de ensinos cristãos, pela ignorância da igreja. A partir das dissidências é que se procura buscar o conteúdo cristão? Podemos observar que temos poucos exemplos religiosos de oposição ao poder vigente.

A educação das virgens, serve para informar, aos estudiosos como eram  as relações de gênero dentro da igreja e como ocorria a educação religiosas das moças no final do século XIX aos meados do século XX. Não podemos esquecer, contudo, que muitas mulheres foram vítimas dessa educação híbrida e temos que admitir, que não havia outra forma de educar moças para a sociedade, o contexto não permitia. Mas, será mesmo que não havia outro modelo?




Referências Bibliográficas

ALGRANT, Leila Mezan. Escravidão no Cotidiano das Instituições de Reclusão Feminina no Sudeste do  Brasil Colonial em Brasil Colonização e Escravidão. Maria Beatriz Nizza da Silva (org). Nova       Fronteira. Rio de Janeiro, 2000.

MACEDO, José Rivair. A Mulher na Idade Média (Coleção Repensando a História Geral). São Paulo Contexto. 1990.

PASSOS, Elizete Silva. A Educação das Virgens. Um estudo do cotidiano do Colégio Nossa Senhora das  Mercês. Rio de Janeiro, 1ª ed. Editora Universitária Santa Úrsula. 1995.

  

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